ENGENHARIA E A TECNOLOGIA
A engenharia tem como característica constante o uso e a presença de tecnologias que facilitam a realização de seus trabalhos.
Essas tecnologias podem vir na forma de pequenas e grandes máquinas elétricas, eletrônicas, manuais ou computadorizadas, vistas como facilitadoras do trabalho do indivíduo, proporcionando praticidade e outras vantagens ao projeto.
UM RELATO PESSOAL
Existe uma classificação que categoriza as gerações da nossa sociedade, onde pessoas da minha faixa etária são classificadas como pertencentes à geração Y. Isso significa que nossas infâncias, adolescências e juventudes foram marcadas por constantes surgimentos e obsolescência de tecnologias voltadas para sistemas de rede, armazenamento de dados e computação.
Para ouvir música, fomos obrigados a aprender a lidar com discos de vinil, fitas cassete, VHS, CDs, DVDs, Blu-rays, MP3 players e celulares, respectivamente nessa ordem, até chegarmos aos smartphones em um período de menos de 30 anos.
Este texto não se trata de elaborar um manifesto saudosista dos anos 90 em diante, como muitos já ouviram falar, mas sim de expor e gerar reflexão sobre algo que pouco vejo ser discutido, mas que está associado a esse movimento:
a experiência de quem percebeu e viveu essa onda de mudanças e evolução tecnológica no campo da engenharia civil.
UM RELATO PROFISSIONAL
Foi na topografia, bem cedo, que tive meu primeiro contato com a construção civil. Nessa época, muito por conta da informalidade ainda presente na construção civil brasileira, a topografia ainda era realizada com muito pouca tecnologia, de modo que os serviços se caracterizavam por uma grande quantidade de materiais, equipamentos e mão de obra para serem realizados.
Abaixo está uma lista de equipamentos e profissionais que eram necessários para a produção de uma planta topográfica:
Caso não tenha esquecido nada, essa era a equipe envolvida na produção de uma simples planta topográfica na década de 90.
O que mais me impressiona, vendo em perspectiva, são duas coisas. Primeiramente, o fato de que o topógrafo não só trabalhava com equipamentos puramente mecânicos, mas, para a coleta e interpretação de um único ponto em tempo real, era necessário fazer uma leitura de ângulo azimutal horizontal e vertical na forma 00° 00' 00,00” e de distância em metros com a trena, com 3 casas decimais depois da vírgula, além de fazer cálculos trigonométricos com essas informações para localizar um ponto no local.
A segunda coisa que me chama a atenção é que, segundo relatos de quem viveu essa época, devido à complexidade na execução de serviços topográficos, era praticamente impossível o aprendizado por espontaneidade de qualquer pessoa, restando à experiência o fator principal na formação de profissionais.
PRIMEIRA ONDA MUDANÇAS.
Pouco tempo depois, vi surgir no campo um equipamento chamado distanciômetro. Esse equipamento usa a mesma tecnologia das trenas a laser de hoje e, como um brinquedo do "Megazord dos Power Rangers", encaixava-se ao teodolito, conferindo-lhe a capacidade de realizar, coletar e armazenar leituras de distâncias.
Isso, juntamente com uma caderneta eletrônica, eliminava a necessidade dos profissionais envolvidos com anotações e medições de distância, deixando nossa lista desta forma:
SEGUNDA ONDA MUDANÇAS.
Então, nosso escritório adquiriu um computador com Windows, com um sistema de cálculo em planilha, que possibilitava o download das informações da caderneta de campo e o cálculo das coordenadas e elevações dos pontos.
Isso foi um grande avanço na parte de projeto e deixava nossa lista dessa maneira:
TERCEIRA ONDA MUDANÇAS.
Com o computador, logo veio a possibilidade de adquirir um software CAD da SoftDesk e uma impressora plotter, computadorizando todas as rotinas de desenho. Isso eliminou ainda mais itens da nossa lista relacionados ao processo de desenho puramente braçal:
QUARTA ONDA MUDANÇAS.
A computadorização não veio apenas para o escritório. Algum tempo depois, surgiu no mercado brasileiro a Estação Total, que representava a fusão definitiva do Teodolito com uma caderneta de campo e uma calculadora. Isso provocou uma revolução gigantesca no setor de topografia.
Nossa lista...
QUINTA ONDA MUDANÇAS E ATUALIDADE.
À medida que todo tipo de tecnologia para medições foi ficando mais acessível, essas foram sendo incorporadas aos serviços de topografia e ao próprio equipamento Estação Total, como medições sem prisma, robotização, equipamentos GNSS, medições de altura sem trena, super precisão, entre outras.
Essas mudanças também levaram muitos profissionais a repensar a forma como lidavam com a divisão de tarefas, já que, ao mesmo tempo em que especializavam as operações de campo, elas também impactavam as atuações das lideranças.
Dessa forma, caso fosse capacitado, um engenheiro civil com uma estação total e um software CAD poderia produzir e entregar para seu cliente uma planta topográfica sozinho em um tempo curto de até 48 horas.
Reforçando, é claro, que a experiência e o domínio da profissão continuam sendo cruciais para a execução de topografia, já que se trata de uma área da engenharia que requer muita capacitação e precisão.
Se fôssemos correlacionar isso com a nossa lista, eliminando a necessidade de confecção de plantas em papel, pois nesse processo o envio de arquivos em .pdf e .dwg seria o suficiente, teríamos ela desta forma:
CONCLUSÃO E O FUTURO
Neste misto de relato e análise da evolução da estrutura de uma equipe de topografia ao longo do tempo, foi possível entender o impacto que novas tecnologias tiveram em um período de menos de 30 anos.
Esse tipo de evolução não se restringe a esse setor; futuramente, também será discutido em outros campos dentro da Engenharia Civil, como na sondagem, cálculo estrutural, projetos e obras.
O FUTURO E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Muito embora ainda haja muito o que discutir sobre o que está ocorrendo neste exato momento em termos de tendências, existe uma tecnologia que vem mostrando ser algo revolucionário, que é a da inteligência artificial.
A inteligência artificial em conjunto com a topografia se mostra em muitos caminhos diferentes que eventualmente podem se esbarrar.
Em um deles, temos equipamentos de scanner 3D, que não só mapeiam um ambiente com extrema facilidade, mas também utilizam rotinas inteligentes para interpretar o levantamento, preencher falhas de campo e criar, de forma automática, uma planta 2D.
Em outro, temos drones VANTs capazes de mapear topografias de solos cobertos por vegetação e eliminar essa camada por processos de IA.
Em breve traremos mais assuntos desses temas em nosso Blog.
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